sexta-feira, 16 de março de 2012

A Boca-Livre no Cotidiano

Boca Livre e Negócios

As festas de fim de ano das empresas são certamente um tipo de Boca Livre muito apreciado, pois dão aos funcionários o gostinho de, pelo menos uma vez por ano, estarem levando alguma vantagem à custa do patrão. O atual paroxismo capitalista tende a sufocar as formas tradicionais de Boca Livre, enquanto fomenta a Boca Livre corporativa.

Boa parte soa seminários do prof. Freiermund, dos quais eu, Basileu, tenho a franquia no Brasil, se destina ao treinamento de executivos. Eles procuram na Sociologia Eleuterostomática, em primeiro lugar, um bom desempenho em todas as modalidades de Boca Livre que sejam diretamente ligadas aos chamados setores produtivos (como se só eles produzissem, e ainda por cima quem produz alguma coisa são os empregados deles). Isto inclui não só as festas de fim de ano empresariais, como os jantares e os almoços profissionais, e até a horrenda instituição dos cafés da manhã de negócios.

Realmente, se há uma refeição que merece sagrados conforto e privacidade, é o café da manhã. Ele existe para ser saboreado em casa, com muita calma, talvez de pijama, ou, na pior das hipóteses, com roupa bem confortável. Sair de casa, ou mesmo do hotel, em jejum, para discutir negócios, é algo revoltante, que deveria ser proibido pela saúde pública. Se for de gravata, pior ainda, mas quem se dispõe a usar esse sufocante adereço já não tem mesmo muito apego ao conforto.

Recebi, a propósito, o seguinte comentário do velho amigo Manuel Rui Pontes:

Basileu, estás a reclamar de barriga cheia, literalmente. Menos-mal quando o pequeno-almoço a negócios é em países onde essa refeição é farta nos hotéis, como o Brasil, a Alemanha, os Estados Unidos ou a Inglaterra. Pior era cá em Portugal, e também em Espanha, França e Itália, onde o pequeno-almoço, mesmo em hotéis melhores, se resume a um café com leite, um cacete, manteiga e, quando muito, geleia. (E atenção, brasileiros: cacete, para nós, é um pãozinho!) Mas a americanização da Europa pelo menos tem servido para melhorar os desjejuns dos hotéis nos países euro-latinos.

Boca Livre e Romance

Consulta-nos uma leitora:

Concordo totalmente com o professor Basileu a respeito do café da manhã... gostaria de frisar a importância social deste, inclusive da conotação sexual que tem o “café na cama”, sempre que é mostrado em filmes, novelas e até em livros. Talvez seja um resquício da época em que o homem “comia” e depois era a vez da mulher, cada um provendo sua parte no relacionamento. Talvez não tenhamos mudado tanto assim, já que ainda cabe ao marido o papel de provedor e a mulher o papel de defender a toca, apesar de todo o avanço feminista. Gostaria de aproveitar a deixa e pedir ao ilustre professor que discorra um pouco sobre a importância da boca livre nos relacionamentos românticos... que ao meu ver seriam o ponto mais delicado de uma boca livre. Por exemplo, o costume de que o homem pague a conta.

Respondo à leitora que realmente há muita relação. O professor Freiermund disse o seguinte, no Livrinho Dourado:

A mecânica da evolução torna alimentação e sexo indissoluvelmente associados. Um promove a sobrevivência do indivíduo, o outro a da espécie, e ambos as dos genes. Quando essas forças se alinham, os genes multiplicam seu potencial de replicação; e os indivíduos bem sucedidos nesse alinhamento passam esse traço para as gerações futuras.

Não admira, pois, que ao longo dos milênios, o elo entre cama e mesa tenha adquirido tanta carga simbólica. Refletida, inclusive, no uso de termos alimentares como metáforas sexuais, que ocorre em muitos idiomas.

Conforme muitos estudos eleutrostomáticos, o investimento dos caçadores primitivos em Bocas Livres para a comunidade retornava de várias maneiras, e uma delas era a colheita de fêmeas de boa parição. De reforço em reforço dos padrões genéticos, consolidou-se ao longo da História a textura das relações primitivas, na qual o homem é tradicionalmente patrocinador de Bocas Livres, e a mulher, usuária.

Naturalmente, há variações. Sendo animal social, o homem é usuário das Bocas Livres dos amigos, vizinhos, colegas e aliados, embora sempre se espere dele seu quinhão de patrocinador. A mulher, por outro lado, quando avança de status a ponto de tornar-se matriarca, marca essa poderosa posição com as Bocas Livres mais memoráveis, principalmente porque matriarcas costumam sobressair-se pela qualidade da culinária, ou comandar cozinheiras que o façam.

Mas o relacionamento mais decisivo e fundamental, que é o relacionamento a dois, o par romântico, permanece, até os dias de hoje, como the ultimate Free Lunch. No mais das vezes, como o macho como patrocinador e a fêmea como usuária, embora haja inversões ocasionais, e o padrão se observe mesmo em casais homossexuais.

Naturalmente, como toda Boca Livre, só é de graça na psique das partes. E sobre as maneiras de retorno, acho que não preciso elaborar mais.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Mais Método Xenoetológico

As Navalhas Xenoetológicas

É forçoso reconhecer que o método xenoetológico difere das ciências mais estabelecidas, em alguns particulares. Ciências como a Física, a Química, a Biologia e tantas outras, se pautam pelo Princípio da Navalha de Occam, também chamado de Princípio da Parcimônia. Formulado pelo filósofo inglês William of Ockham, também conhecido como Occam, esse princípio tem sido citado como Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem (Entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade), ou como Pluralitas non est ponenda sine neccesitate (A pluralidade não deve ser proposta sem necessidade), ou ainda Frustra fit per plura quod potest fieri per pauciora (É inútil fazer com mais o que pode ser feito com menos). Na formulação de Isaac Newton: We are to admit no more causes of natural things than such as are both true and sufficient to explain their appearances (Não devemos admitir mais causas das coisas naturais que as necessárias e suficientes para explicar suas aparências). Ou. finalmente, como dizem os cientistas modernos: Entre duas teorias que fazem exatamente as mesmas predições, a mais simples deve ser preferida.

Ao contrário do que às vezes se pensa, a Navalha de Occam não é parte integral do método científico, mas apenas uma heurística que ajuda o cientista a escolher entre caminhos de pesquisa. Em algumas ciências, como a cosmologia e a psicologia, as explicações são quase sempre mais complexas do que o esperado. Fôssemos aplicar Occam literalmente à xenoetologia, provavelmente ficaríamos sem material de estudo. Exatamente por serem inusitados, os fenômenos xenoetológicos também desafiam o Princípio da Parcimônia. Por isso, os xenoetólogos se vêem compelidos a adotar uma variante que não escolha preferencialmente as elucidações mais triviais.

Fomos buscar tal alternativa em uma ciência irmã, a psicanálise, na forma da Navalha de Freud: Entre duas teorias que fazem exatamente as mesmas predições, a mais interessante é melhor, desde que minimamente plausível. Assim, em lugar se contentar em verificar se o paciente está deprimido por problemas no emprego ou por dor de corno, o terapeuta pode tecer hipóteses sobre problemas na infância, de preferência de natureza sexual. A hipótese será não verificável, de qualquer jeito, mas dará oportunidade a que o paciente fale ainda mais de si, o que, no final das contas, é o que ele está querendo mesmo. Como bônus, ao falar de si, o paciente oferece mais material ao analista, renovando o ciclo. Pois bem. Com a xenoetologia, funciona do mesmo jeito.

A Navalha de Freud é aplicável em outras ciências e técnicas, todas de altíssima respeitabilidade. Por exemplo, na economia política, em todo o espectro ideológico, do neoliberalismo ao marxismo. Ou no jornalismo: por exemplo, para explicar o mesmo fenômeno (dinheiro recebido por um político), a teoria mais complexa (compra de votos parlamentares, que é corrupção brava) rende mais matéria do que a mais simples (contribuição clandestina de campanha, irregular, mas relativamente corriqueira).

Já a literatura, o cinema e as crenças em geral ficam com a Navalha de Homero: semelhante à Navalha de Freud, mas eliminando-se a cláusula minimamente plausível. Aí valem intervenção dos deuses, mágica, milagres, em suma: você decide. Interessa apenas manter o interesse, seja do leitor, espectador ou crente.

Recentemente, porém, a IXA (International Xenoethological Association) reconheceu a diferenciação entre os crentes esotéricos e os convencionais. Para os esotéricos, não basta que a alternativa escolhida seja interessante; aliás, isso nem é considerado tão importante. O que eles realmente preferem é a hipótese mais absurda, ou esdrúxula; não importa que tal tipo de hipóteses nem seja tão interessante, como muito bem o sabem os escritores (com a possível exceção dos humoristas de estilo besteirol).

Daí a necessidade de se definir uma Quarta Navalha, mais alinhada com as demandas do pensamento esotérico. Houve muita discussão sobre quem seria homenageado com a nova Navalha, já que os candidatos abundam. Os nomes mais cotados eram os de Erich von Däniken, Zecharia Sitchin e David Icke. Icke foi um candidato fortíssimo, pelo inusitado extremo de suas teses sobre os reptilianos, o que leva até crédulos moderados a serem um pouco cético. Erich von Däniken, por outro lado, não é tão absurdo quanto os outros dois, e perdeu pela timidez. Ganhou Sitchin pelo critério de aceitação entre os crédulos e roupagem pseudocientífica na Zona de Cachinhos Dourados: just right. Um brinde à Navalha de Sitchin!

Os Efeitos Xenoetológicos

Tal como a parapsicologia ou, pode-se até dizer, a maior parte das ditas ciências humanas, a Xenoetologia é obrigada, na maior parte das vezes, a tratar com resultados reprodutíveis. Daí decorre que geralmente suas fontes são anedóticas; não necessariamente no sentido humorístico que confere a esse termo, mas no sentido adotado em inglês, ou seja: narrativa de um incidente isolado. Ainda que fora dos rigores estatísticos da metodologia científica padrão, é melhor que nada, como bem os sabem os engenheiros de software e muitos outros profissionais técnicos, que há décadas vivem de tais dados, à falta de quem patrocine experimentos controlados relevantes.

Forçado a extrair informação de narrativas nem sempre verificáveis, o xenoetólogo deve, pelo menos, precaver-se contra alguns efeitos insidiosos, que ameaçam corromper o mínimo de verdade que as narrativas singulares possam trazer. Se não o fizer, melhor será que se filie a grupos místicos, ou pelo menos adeptos de teorias conspiratórias. Tais grupos partem de observações já duvidosas no nascedouro, para chegar a conclusões infensas ao bom-senso. Aliás, para eles, quanto mais uma teoria passar ao largo do senso comum, mais merecedora de renome, atenção e difusão. Até, quem sabe, crença.

Uma das armadilhas que o xenoetólogo proficiente deve aprender a evitar é o Efeito Rashomon. Refere-se ao famoso filme de Akira Kurosawa, baseado em um conto de Ryūnosuke Akutagawa, e refilmado por Martin Ritt como The Outrage(no Brasil, Quatro Confissões). Em resumo, um bandido assalta um casal, e o marido termina morto. A polícia investiga o crime, e ouve as três primeiras versões: a do bandido, a da mulher, e a do marido (falando através de um médium). Cada uma reinterpreta vários pontos da anterior, deixando o espectador cada vez mais em dúvida quanto à verdade. O mais interessante é que o objetivo de cada narrador não é o de parecer inocente; ao contrário, eles admitem parte da culpa, na medida em que isso contribua para aumentar a respectiva grandiosidade. A versão final é a de alguém que, por acaso, passava pelo local, e não foi visto pelos demais personagens. Segundo este passante, todos eram covardes e incompetentes, e tudo não passou de uma comédia de erros e acidentes.

Agora vejam o dilema do xenoetólogo: se ele aplicar a Navalha de Occam, fatalmente escolherá a versão do passante. Mas esta não envolve comportamento inusitado algum: apenas boa e velha estupidez humana. Já se aplicar a Navalha de Freud terá três belas histórias para contar. Pessoalmente, fico com a versão do marido, que, além de ser a menos óbvia, ainda conta com o apelo ao sobrenatural...

Para finalizar com uma nota erudita, permito-me citar dois críticos:

Rashomon is a brilliant but bleak and very dramatic examination of epistemology, the philosophy of knowledge, the need for certainty and its frail attainment. (Carter B. Horsley)

In the end, we are left recognizing only one thing: that there is no such thing as an objective truth. It is a grail to be sought after, but which will never be found, only approximated. (James Berardinelli)

E resta acrescentar que o Efeito Rashomon já tem um verbete na Wikipedia.

Também na categoria, digamos, epistemológica, existe o Efeito Elefante. Vem de uma velha fábula indiana, segundo a qual cinco cegos encontraram um elefante, pela primeira vez na vida. O primeiro apalpou a barriga do elefante, e disse que um elefante era como uma parede. O segundo abraçou uma perna, e disse que o animal era como um tronco de árvore. O terceiro pegou em uma orelha, e concluiu que o bicho era como uma ventarola. O quarto pegou na tromba, e disse que todos os outros estavam errados: um elefante, na realidade, era uma espécie de enorme cobra. O quinto pegou no rabo, e disse que o quarto tinha chegado perto, mas o elefante era, mais precisamente, como uma corda.

A propósito, sempre que se conta esta fábula, há um engraçadinho por perto, para perguntar sobre um sexto cego, e outra possível parte da anatomia elefântica. Vamos passar sem essa.

Tal como o Efeito Rashomon, o Efeito Elefante gera diferentes interpretações do mesmo fato. Mas este último é menos sofisticado: cada variante reflete uma visão (?!) que poderíamos de objetivamente parcial, causada por informação insuficiente sobre o assunto em análise, enquanto no Efeito Rashomon cada versão é subjetivamente parcial, distorcida pela influência dos interesses de cada narrador. Em diferentes graus e combinações, ambos costumam estar presentes em discussões inconsequentes e não-conclusivas, seja no botequim ou no Orkut.

O Efeito Elefante também já tem verbete na Wikipedia.

O filme Deu Louca na Chapeuzinho é um exemplo de Efeito Rashomon para crianças. Em que pese a longa tradição cinematográfica do Efeito Rashomon, desde o filme que originou o nome do efeito, até o recente Herói, uma reflexão mais profunda me levou a concluir que, no caso, trata-se do Efeito Elefante. Com efeito (sem intenção de trocadilho infame), as diferentes versões da história, narrados por Chapeuzinho, pela Vovó, pelo Lobo e pelo Lenhador, não são alternativas, mas complementares, pois nenhuma delas desmente as outras, no todo ou em parte.

A tríade de efeitos epistemo-xenoetológicos é completada pelo Efeito Palimpsesto. Refere-se aos antigos pergaminhos nos quais a escassez e alto do custo do material fazia com que os textos antigos fossem apagados e sobrescritos. Textos pagãos, por exemplo, eram sobrescritos por escrituras cristãs. Posteriormente, descobriram-se técnicas para recuperar as camadas inferiores dos manuscritos. Alguns exemplos do Efeito Palimpsesto:

1. No livro Contato, Carl Sagan narra como uma civilização alienígena usa várias camadas de significado para embutir mensagens aos terrestres. Boa parte do brilho de raciocínio do livro foi perdida na versão cinematográfica, em parte pela tentativa de fazer média com as religiões. Mas isso é assunto para outra discussão.

2. O filme Herói, de Zhang Yi-mou, frequentemente comparado a Rashomon, é na realidade um exemplo do Efeito Palimpsesto. As várias versões contadas pelos personagens não são variantes da mesma história, mas sucessivas aproximações, cada vez mais reveladores das reais intenções e motivações deles. Os personagens não são gente comum e egoísta como os de Rashomon; ao contrário, todos os protagonistas só querem o bem do Povo e a felicidade geral da Nação. São as diferentes interpretações do que isso signifique que os levam a ocultar ou deformar partes da verdade.

3. O filme La mala educación, de Almodóvar, é outro exemplo. Aqui, ao contrário de Herói, nenhum dos personagens é boa bisca, embora nenhuma seja completamente mau: nem mesmo o padre pedófilo. Em termos práticos, ganha aquele que sabe tomar melhor partido de cada uma das camadas da história.

Modestamente, eu mesmo investiguei o efeito na Divina Comédia, conforme provo em A Grande Fênix. As duas primeiras camadas são óbvias, desde a época da publicação: a alegoria moral e religiosa, no topo, e, logo abaixo dela, o comentário sobre a política italiana da época, com um apelo à unidade nacional. O que eu mostrei foi que certa modelo que listou a Comédia entre seus livros preferidos, por gostar de literatura engraçada, tinha muito mais razão do supõem os que riram dela por tal observação. Pelo menos quanto ao cântico do Inferno, mostrei, com provas abundantes, o intencional objetivo cômico do Alighieri. Mas a Ordem da Grande Fênix alega existir ainda uma quarta camada de significado oculto...

No Efeito Palimpsesto, a narrativa se apresenta em sucessivas camadas; na medida em que se raspa cada camada, emergem mais alguns aspectos até então escondidos. De certo forma, pode-se dizer que o Efeito Palimpsesto se aproxima da verdade por via vertical, enquanto os efeitos Rashomon e Elefante apresentam alternativas horizontalmente dispostas... Em conseqüência, o Efeito Palimpsesto é o mais sofisticado, e o mais difícil de reconhecer.

Talvez por isso, não tem ainda verbete na Wikipedia. Vou pensar no caso.

domingo, 25 de setembro de 2011

Neurônios, estereótipos e piratas

Cientistas 'pintam' neurônios com as cores do arco-íris

Uma equipe da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, utilizou a mais nova técnica de coloração celular para "pintar" neurônios de camundongos com até 90 cores diferentes. As descobertas sobre a nova técnica, que recebeu o nome de brainbow, ou "arco-íris cerebral", foram publicadas na revista científica Nature.

Na experiência, os especialistas americanos usaram uma combinação de várias proteínas fluorescentes para colorir os neurônios. "Da mesma forma que um monitor de televisão mistura vermelho, verde e azul para criar um leque de cores derivadas, a combinação de três ou mais proteínas fluorescentes pode dar várias outras tonalidades aos neurônios", explicou Jeff Litchman, um dos líderes do estudo.

Até agora, as técnicas de coloração cerebral conseguiam obter apenas cinco cores variadas. A tecnologia do "brainbow", no entanto, pode obter até 90 tonalidades ao usar uma técnica moderna que manipula o material genético conhecido como Cre/lox para produzir proteínas fluorescentes nas cores verde, amarela, laranja e vermelho.

Ao ser inseridas nos neurônios individualmente, as proteínas fluorescentes provocaram um explosão de cores, "colorindo" os neurônios de camundongos com dezenas de tonalidades variadas. Além de produzir imagens impressionantes visíveis em microscópio, a técnica pretende auxiliar no mapeamento do circuito do sistema nervoso humano e dar novas pistas sobre a origem de certas doenças cerebrais. "O brainbow deve ajudar a ciência a fazer um mapeamento mais apurado da trama cerebral e do emaranhado de neurônios do sistema nervoso", conclui Jeff Litchman.

Fonte: Agência Estado

Uma excelente notícia para os punks, que não precisam mais limitar suas explosões de cores aos cabelos: chega de beleza superficial, viva a beleza interior. Vejam a foto: puro impressionismo.

E a melhor parte é que, quanto menos neurônios, mais fácil aplicar o brainbow.

Homens emburrecem diante de loiras, diz estudo

Um estudo publicado na revista especializada Journal of Experimental Social Psychology sugere que os homens mudam de comportamento e "emburrecem" para se adequar ao estereótipo da "loira burra". No estudo liderado pelo psicólogo social Thierry Meyer, da Universidade Paris-X Nanterre, o desempenho intelectual dos homens cai quando eles são expostos a fotografias de mulheres loiras.

Os cientistas fizeram testes de conhecimento geral em homens em duas ocasiões, depois de mostrar a eles diferentes fotos de mulheres. Nas experiências, os homens que viram fotos de loiras tiveram resultados inferiores. Os cientistas acreditam que os resultados não foram causados por simples distração causada pelas loiras, mas sim porque, inconscientemente, eles teriam sido contaminados pelo estereótipo da "loira burra".

"Isso prova que as pessoas confrontadas com estereótipos geralmente se comportam de acordo com eles", disse Meyer. "Neste caso, as loiras têm potencial para fazer homens agirem de forma mais burra, porque eles 'imitam' inconscientemente o estereótipo da loira burra." Pesquisas anteriores já mostraram que o comportamento do ser humano é fortemente influenciado por estereótipos. Alguns trabalhos apontaram que as pessoas tendem a andar e a falar mais devagar diante de idosos.

Fonte: Agência Estado

Pois é, foi só falar em neurônios... Mas dizer que a tal contaminação por estereótipos é responsável pelo fato de as pessoas andem e falem mais devagar diante de idosos, parece um tanto forçado. Occam nos sugeriria que as pessoas andam mais devagar para que os idosos possam acompanhá-las, já quem nem sempre são ágeis, e falam mais devagar para que os entendam, já que costumam ter audição pior.

Arqueólogos dizem ter descoberto navio do pirata Capitão Kidd

Uma equipe de arqueólogos submarinos dos Estados Unidos anunciou, na quinta-feira, 13, a descoberta dos restos naufragados do navio que era comandado pelo notório pirata capitão William Kidd. Os vestígios estão ao largo de uma pequena ilha da República Dominicana. Canhões e âncoras cobertos de cracas foram encontrados a meros 10 metros de profundidade, em águas da Ilha Catalina. Acredita-se que sejam os restos do Quedagh Merchant, um navio abandonado pelo bucaneiro escocês em 1699, disseram pesquisadores da Universidade de Indiana.

"Quando olhei para baixo e vi, não pude acreditar que todo mundo tivesse passado batido por 300 anos", disse o arqueólogo-mergulhador Charles Beeker. "Estive em milhares de naufrágios, e este é um dos primeiros que nunca foram tocados por saqueadores". Beeker diz que o naufrágio era caçado avidamente, inclusive por um grupo autorizado pelo governo dominicano. Historiadores acreditam que o navio saqueado e queimado, pouco depois de ter sido abandonado por Kidd. A República Dominicana licenciou o a Universidade de Indiana para estudar o naufrágio e criar uma reserva submarina, para ser visitada por mergulhadores.

O historiador Richard Zacks, que escreveu um livro sobre Kidd, disse que o escocês se apossou no navio de 500 toneladas no Oceano Índico, mas o abandonou no Caribe quando decidiu ir a Nova York em 1699, para tentar limpar seu nome. O pirata não foi capaz de convencer as autoridades e acabou enforcado em 1701.

Fonte: Agência Estado

Interessante descoberta arqueológica. Mas bom mesmo será quando encontrarem os navios dos Capitães Flint, Ahab e Gancho.

domingo, 11 de setembro de 2011

Inusitados científicos – III


Famoso cientista infectado

Os perigosos agentes patogênicos da família Faecorator transformam matéria cerebral em fecal, fazendo com que as vítimas sintam terrível compulsão de falar besteiras. São mais conhecidos os casos de contaminação de políticos, esportistas e comunicadores de massa, mas ninguém está imune, nem mesmo cientistas famosos.

O grande cientista James Watson tem sido frequente vítima dos perigosos agentes. Há poucos dias, sofreu um ataque de uma das piores espécies, o Faecorator homossanticus, que transforma todo o lado esquerdo do corpo em um segundo lado direito, levando a vítima a proferir manifestações preconceituosas, racistas, homofóbicas e similares. Devidamente medicado, o cientista se recuperou parcialmente, e pediu desculpas. Mas não sei se as desculpas foram tão sinceras: pouco depois, publicou-se que a análise do DNA dele mostrou que ele tem 16 vezes mais genes de origem africana que o europeu médio.

Em ocasiões anteriores, quando infectado por espécies um pouco menos virulentas, o Dr. Watson proferiu as pérolas que se seguem.

–Sobre a obesidade: Whenever you interview fat people, you feel bad, because you know you're not going to hire them.

–Sobre a conveniência de manipular a genética em prol da beleza: People say it would be terrible if we made all girls pretty. I think it would be great.

–Defendendo a tese de que a melanina favorece o impulso sexual: That's why you have Latin lovers. You've never heard of an English lover. Only an English patient.

A última faz algum sentido, pelo menos quanto os ingleses. Mas, por via das dúvidas, Sherlock Holmes faz questão de esclarecer que é um homônimo do assistente dele.

DNA define sensibilidade a cheiro de suor, diz estudo

Uma pesquisa israelense descobriu que um único gene pode ser a explicação do fato de algumas pessoas serem mais sensíveis ao cheiro de suor enquanto outras parecem não notar o odor. Os pesquisadores do Instituto Weizman descobriram que pessoas que têm pelo menos uma versão do gene chamado OR11H7P funcionando normalmente têm hipersensibilidade a este cheiro. O estudo, publicado na revista especializada PLoS Biology, descobriu que as mulheres são um pouco mais sensíveis a muitos tipos de cheiros do que os homens. Além disso, os pesquisadores descobriram que fatores sociais, além dos genes, também são importantes para o olfato.

O olfato geralmente fica em segundo plano, quando comparado a outros sentidos humanos. Mas os humanos podem perceber até 10 mil odores diferentes. Como no caso dos camundongos, humanos têm cerca de mil genes diferentes apenas para os receptores de cheiros do sistema olfativo. Cerca de metade destes genes ficaram inativos nos últimos milhões de anos. Alguns destes genes são "quebrados" em todas as pessoas, e outros ainda funcionam em outros grupos de pessoas.

Notícia completa: BBC Brasil.

Isso explicaria por que o hábito de tomar banho é impopular em certos lugares?

Teste de LSD em elefante lidera lista de experiências bizarras

Em 1962, o diretor do zoológico Lincoln Park, de Oklahoma, nos Estados Unidos, injetou uma dose maciça de LSD no elefante Tusko, em nome da ciência. Tusko se virou, soltou um berro e morreu em menos de uma hora. A dose era três mil vezes maior do que a usada para fins recreativos. Os cientistas justificaram a experiência, dizendo, na época, que queriam ver se a droga detonaria uma condição que afeta machos da espécie conhecida como "musth", na qual eles se tornam agressivos e soltam uma substância grudenta de odor desagradável de suas glândulas. A experiência concluiu que os elefantes são muito sensíveis ao LSD.

Entre as outras experiências da lista, estão o enxerto de cabeça, ombros e pernas dianteiras de um filhote de cachorro no pescoço de um pastor alemão pelo cirurgião soviético Vladimir Demikhov em 1954. Ocasionalmente, as duas cabeças brigavam entre si. A criatura sobreviveu por seis dias. O cirurgião repetiu a experiência outras 19 vezes durante 15 anos e o animal que viveu mais tempo durou um mês. A conclusão: A rejeição dos tecidos torna os animais incompatíveis.

Há ainda o caso do médico que esfregou vômito fresco de pacientes de febre amarela em ferimentos, e chegou a beber o vômito, para tentar provar, erroneamente, que a doença não era contagiosa. Ele ficou doente e mais tarde foi provado que a febre amarela é altamente contagiosa.

Em 1960, dez soldados americanos foram colocados em um avião e, em seguida, informados pelo sistema de alto-falantes que havia um problema e a nave estava prestes a cair. Uma aeromoça então pediu aos soldados, que acreditavam estar diante da morte certa, que preenchessem um formulário da empresa de seguros. Quando o último soldado entregou a ficha, foi explicado que tratava-se de um teste e que ninguém estava morrendo. A experiência revelou que, sob o medo da morte iminente, as pessoas cometem mais erros ao preencher formulários.

Lições aprendidas, portanto:

1. Não dê LSD ao seu elefante de estimação.

2. Duas cabeças nem sempre pensam melhor que uma, pelo menos quando são de cachorro e partilham um só corpo.

3. Não beba vômito, principalmente de pacientes de doença contagiosa.

4. Quando estiver em risco de morte iminente, tome muito cuidado ao preencher formulários.

domingo, 13 de março de 2011

Xenoetologia política – II





Senador defende cota para nepotismo

Um dia após o STF extinguir o nepotismo no Judiciário, o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) se disse contrário à proibição da contratação de parentes para o Executivo e Legislativo, proposta em tramitação na Câmara dos Deputados.

O senador defende que haja uma cota -- que poderia chegar a 10% -- para que o parlamentar ou o funcionário do Executivo contrate um parente. “Seria uma coisa razoável, que não implicaria que eu tivesse um parente especialista no assunto e que não pudesse contribuir com ele”, afirmou.

O senador argumenta que cargos nos tribunais, como de ministro do STF, são vitalícios e nesses casos as contratações de funcionários configurariam nepotismo.No Legislativo, como os mandatos são fixos, a contratação de membros da família não seria irregular.

O Senador Mozarildo começou a ficar famoso na eleição indireta de Tancredo. Nessa época, ainda um modesto e jovem deputado estadual, era um dos eleitores malufistas do Colégio Eleitoral. Na véspera da votação, apareceu no comitê de Tancredo, perguntando como é que se aderia...

Poderia acrescentar que o nepotismo é uma prática histórica respeitável, por muito tempo usada pelos Papas. Até o Século XVI, um dos postos mais poderosos do Vaticano era o de Cardeal-Sobrinho, título oficial, que, é claro, era sempre ocupado por um sobrinho do Papa. Vale lembrar que tanto sobrinho como neto se traduzem em latim por nepos e em italiano por nipote, origens do termo nepotismo. Só começou a pegar mal depois que o Papa Júlio III nomeou para o cargo um sobrinho adotivo de 17 anos, que na realidade era um menino de rua que caíra nas graças papais... como amante.

Para China, ativista paralisado se auto-espancou

Uma investigação das autoridades chinesas chegou à conclusão de que o ativista Fu Xiancai, paralisado após sofrer um grave espancamento, provocou os ferimentos em si mesmo. o espancamento em junho foi tão grave que ele nunca mais poderá andar. Mas a investigação oficial chegou à conclusão de que o ataque foi fabricado.

As autoridades disseram ao filho do ativista que os investigadores não encontraram pegadas de outras pessoas no local do ataque e concluíram que ele teria batido em si mesmo. Segundo a Human Rights in China (HRIC), os golpes atrás de seu pescoço foram tão fortes que três de suas vértebras foram quebradas.

O ativista vinha chamando a atenção para os problemas das pessoas forçadas a deixar suas casas para a construção da barragem para a usina de Três Gargantas. O governo chinês diz que a usina, que será a maior do mundo, proverá energia para sua economia em crescimento e ajudará a controlar as enchentes do rio Yangtze. Mas, segundo a HRIC, ela tem custado a destruição de vilarejos, muitos dos quais foram transferidos para outras áreas de qualidade inferior sem compensação pelas autoridades.

Suicídios inusitados de presos políticos são conhecidos, como os casos de Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho, durante a ditadura brasileira. Ou o caso do terrorista alemão Andreas Baader, que se teria suicidado na prisão com um tiro na própia nuca. Mas esse deve ser o primeiro caso de auto-espancamento brutal, em todo o mundo.

Homem come dedo de comerciante em Portugal

Um cliente insatisfeito engoliu o pedaço do dedo arrancado a dentadas do proprietário de um bar, em Portugal. O dono do bar "Faz de Conta", em Ovar, começou a discutir com um cliente, durante a madrugada, por volta da 1h30. O motivo da discussão seria o fato de o cliente não ter dinheiro suficiente para pagar pelas bebidas que ele havia consumido. No calor da discussão, o cliente mordeu o dedo do dono do bar, arrancou um pedaço dele com os dentes e engoliu-o em seguida.

Quando a polícia chegou encontrou o dono do bar sem um pedaço do dedo e o cliente bastante machucado e com traumatismo craniano. Ambos tiveram que ser levados para o Hospital São Sebastião, em Santa Maria da Feira. A polícia registrou a ocorrência, todavia nenhuma das partes envolvidas na briga desejou apresentar queixa formal contra a outra.

Ora, perguntarão, e o que tem isso a ver política? Tudo, respondo eu. O dono do bar não quis registar queixa porque julga poder agora realizar o velho sonho de entrar para a política. “Portanto, quem sabe chego a Presidente?”

Cavaco, cuida-te.

Orientação eleitoral

Na época de uma das eleições recentes, uma leitora me fez a seguinte consulta:

Tenho estado meio por fora das discussões aqui feitas, mas gostaria de perguntar algo de interesse público ao nosso sempre iluminado mestre, Dr. Basileu. Em quem o senhor acha mais sensato votar: nos Girondinos ou nos Jacobinos? A mim parece que, com qualquer um destes, seremos igualmente decapitados. Que fazer, então?

Respondi-lhe com as considerações a seguir.

Meu voto costuma pautar-se pelas palavras de dois grandes escritores.

De um lado, diz Shakespeare, no monólogo de Hamlet: Rather bear those ills we have, than fly to others that we know not of. Em tradução um pouco livre: Melhor suportar os males que temos, que voar para os que desconhecemos.

A outra citação é de Jorge Amado. Essa, todo mundo conhece.

V de Vingança

Assisti, há algum, ao filme V de Vingança, o novo sucesso dos irmãos Wachowski. Achei parecido com um cruzamento entre O Fantasma da Ópera e 1984, o que é um elogio, pois gosto muito de ambos. Aliás, o filme faz uma homenagem explícita ao livro de Orwell: John Hurt, que faz o papel de ditador, era o herói de 1984, na última versão filmada.

A máscara do filme é usada em tradicional evento inglês, a Noite de Guy Fawkes. Essa festa lembra a Conspiração da Pólvora, na qual um grupo de conspiradores católicos, liderados por Guy Fawkes, tentou explodir o Parlamento britânico, no dia em que o rei Jaime I faria a abertura de seu ano oficial. Chegaram a colocar em túneis sob o Parlamento quase uma tonelada de pólvora, o que teria reduzido a escombros o complexo de edifícios, já bastante grande naquela época.

A conspiração fracassou porque um dos conspiradores enviara uma carta a um parlamentar católico, sugerindo que ele não comparecesse à sessão fatídica. O parlamentar mostrou a carta a um ministro, e uma varredura dos túneis apanhou Fawkes pronto para a ação. Sob tortura, ele entregou os outros conspiradores, e foram condenados à pena de Hanging, drawing and quartering, reservada aos traidores. Não era um enforcamento simples: o condenado era arrastado até o lugar de execução; enforcado brevemente mas retirado ainda vivo; estripado e castrado, sendo os respectivos materiais queimados diante dele; e finalmente, decapitado e esquartejado, sendo seus pedaços expostos. Outro que recebeu esse castigo foi William Wallace, encarnado por Mel Gibson, no filme Coração Valente, que também apresenta uma versão atenuada do método de execução do herói.

Um dos pubs mais tradicionais de Londres é o Hung, Drawn and Quartered, que ostenta uma placa com uma citação famosa do diarista Samuel Pepys:

Seja como for, Fawkes, logo após ser retirado da forca, conseguiu se livrar dos carrascos, e pulou do cadafalso, quebrando o pescoço, para grande frustração dos espectadores. A partir daí, passou a ser um personagem visto de forma ambígua na memória inglesa.

Na tradição protestante, é o traidor papista, que tentou liquidar de um só golpe rei e parlamento, os dois pólos do Estado britânico. No dia 5 de novembro, o fracasso da Conspiração da Pólvora é comemorado com fogos de artifício, e bonecos de Fawkes são malhados, como os nossos Judas. Cantam-se os versos tradicionais:

Remember, remember the fifth of November,

The gunpowder, treason, and plot,

I see of no reason why gunpowder treason

Should ever be forgot.

Guy Fawkes, Guy Fawkes, 'twas his intent

To blow up the King and the Parliament.

Three score barrels of powder below,

Poor old England to overthrow;

By God's providence he was catch'd

With a dark lantern and burning match.

Holloa boys, holloa boys, make the bells ring.

Holloa boys, holloa boys, God save the King!

Hip hip hoorah!

Antigamente, malhavam-se também bonecos do Papa, e os versos continuavam assim:

A penny loaf to feed the Pope.

A farthing o' cheese to choke him.

A pint of beer to rinse it down.

A faggot of sticks to burn him.

Burn him in a tub of tar.

Burn him like a blazing star.

Burn his body from his head.

Then we'll say ol' Pope is dead.

Hip hip hoorah!

Hip hip hoorah hoorah!

Em nome da boa convivência ecumênica, essa parte não é mais usada.

Crianças usando máscaras de Guy Fawkes pedem a penny for the guy. Vem daí o uso de guy com o significado de sujeito, cara...